Reforma Política poderá ter voto em lista fechada e mudanças no financiamento de campanha; entenda
maio 17, 2017Reforma Política poderá ter voto em lista fechada e mudanças no financiamento de campanha; entenda
A Comissão Especial da Reforma Política tem se reunido para discutir os diversos pontos que contemplarão a proposta da reforma política. Uma das mudanças previstas nas últimas discussões são o voto em lista fechada e um sistema misto de financiamento de campanha. Mas, afinal, de que forma essas mudanças vão mudar a composição do Congresso Nacional?
O voto em lista fechada é um modelo de eleição diferente do utilizado pelos brasileiros. Ele estabelece que o cidadão vote não em um candidato específico, como é hoje, mas em uma lista preestabelecida pelo partido político. Assim, os eleitos seriam os primeiros colocados dessa lista de acordo com o número de vagas que o partido conquistar na eleição.
Esse sistema de lista fechada é aplicado em vários países como Argentina, Bulgária, Portugal, Moçambique, Espanha, Turquia, Uruguai, Colômbia, Costa Rica, África do Sul e Paraguai. Nesse padrão, os partidos decidem antes das eleições a ordem em que os candidatos aparecerão na lista. O eleitor vota em um dos partidos, sem o direito de expressar preferência por um ou outro candidato.
Para a cientista política e professora da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) Roseli Coelho, esse modelo é interessante, pois é uma maneira de valorizar os partidos políticos. “Ela eleva os partidos e os deixa mais impactantes porque não adianta você querer votar em um candidato X que é ótimo se ele não estiver nos primeiros lugares do partido”, explica.
Quem é contrário ao modelo, segundo Roseli, acredita que a lista fechada transformaria os partidos políticos em oligarquias mais fechadas e mais autoritárias do que já são na atualidade. “Tudo isso porque quem escolheria a sequência dos candidatos na lista seria a direção do partido. No entanto, quem defende esse modelo quer que os partidos façam uma eleição interna para que os nomes sejam decididos por todos”, fala.
Mas Roseli explica que o TSE não poderia exigir que os partidos fizessem essa eleição interna. “Eles teriam poder de exigir que os nomes fossem apresentados antes da eleição, mas não podem mexer no regimento de cada um dos partidos”, explica.
A lista fechada já tinha sido proposta no Congresso brasileiro. A alteração até chegou a ser aprovada por uma comissão especial, mas foi rejeitada em plenário da Câmara dos Deputados em 2007. Na época, avaliaram que o modelo fortaleceria a organização partidária, motivando lideranças a construírem uma carreira no partido. “Essa organização, no entanto, não é algo necessariamente ruim. Tem muita gente que é adepta de um estilo mais frouxo de fazer política partidária. É uma posição, mas é discutível”, fala Roseli.
Para a cientista política, se houvesse uma eleição interna dentro dos partidos, a lista fechada seria uma mudança positiva para o cenário político do país. “Gostaria que a responsabilidade dos partidos fosse aumentada. Seria interessante para a democracia brasileira e acho que esse modelo poderia acabar com a tendência de alguns políticos aventureiros que temos acompanhado”, fala.
Na opinião da professora da FESPSP, não dá para saber como esse novo modelo mudaria a composição do Congresso Nacional. “Com certeza alguma influência teria, mas não é possível identificar qual. Talvez os políticos teriam que ter mais articulação com os partidos. Mas tudo também depende muitos de fatores externos. Na eleição de 2014, por exemplo, o PT perdeu boa parte de sua bancada por causa dos esquemas do mensalão. A composição do congresso depende de muitos fatores”, fala.
Financiamento de campanha
Outra proposta do deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da proposta de reforma política na Câmara, é um sistema misto de financiamento de campanha, que permita o uso de recursos públicos e doações por pessoas físicas.
Em 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu o financiamento privado em campanhas e, atualmente, elas só podem ser financiadas por recursos do candidato, doações de pessoas físicas, de partidos e de outros candidatos, além dos recursos do fundo partidário.
Segundo o relatório de Cândido, 70% do limite de custo da campanha poderia ser bancado pelo financiamento público e os outros 30% poderiam vir de doação de pessoa física. De acordo com o deputado, será definido um limite de um salário mínimo por pessoa. Também deve ser proibido o autofinanciamento, para não ter abuso por parte dos candidatos mais ricos.
Na opinião da professora da FESPSP, o mais importante é manter a proibição do financiamento pelas empresas. “Essa volta está em discussão. A proibição do financiamento privado por parte das empresas é um ato positivo para democracia brasileira e é importante para conter o avanço do poder econômico sob a política”, fala.
Para ela, os programas eleitorais deveriam mudar e os políticos deveriam fazer a campanha com o uso do fundo partidário. “Eles já recebem alguns milhões, mesmo os partidos menores. O PCO (Partido da Causa Operária), por exemplo, recebe 640 mil. Os programas de TV têm que ficar engessados, sem produção e sem marqueteiro recebendo 50 milhões”, fala.
A ideia é que o texto-base que está sendo discutido pela Comissão siga para o plenário da Câmara ainda em maio para depois ser enviado ao Senado. Para que as mudanças passem a valer nas eleições de 2018, a matéria precisa ser aprovada até 2 de outubro deste ano.
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