As jovens nigerianas que querem ir para a Europa a qualquer custo
junho 16, 2017As jovens nigerianas que querem ir para a Europa a qualquer custo
Na cidade de Benim, capital nigeriana da imigração ilegal, a palavra “prostituição” nunca é dita em voz alta, mas é de lá que várias jovens partem para a França e Itália, aceitando qualquer oportunidade para chegar à Europa.
A Nigéria, um país com mais de 190 milhões de pessoas, é recordista entre os imigrantes africanos que chegam de barco na costa italiana.
Em 2016, foram 37.500, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A maioria desses imigrantes veio da cidade de Benim e o número de ocorrências está aumentando rapidamente, segundo a OIM. Em 2013, 433 nigerianos foram para a Itália. Em 2014, já eram cerca de 5.000, quando houve um “aumento significativo no número de menores de idade, que são facilmente manipuláveis”.
“A maioria dessas pessoas estava destinada à exploração sexual”, diz a agência da ONU.
“Mas por que isso? Por que a cidade de Benim? Sempre me pergunto isso e o assunto me dá dor de cabeça”, lamenta Bibiana. A religiosa tenta ajudar jovens mulheres a voltarem da Europa, voluntariamente repatriadas ou expulsas. “Mas elas são tentadas a irem novamente para lá”, ela afirma.
A sala de reuniões de sua pequena associação é presidida pelo rosto de Jesus, sorrindo, oferecendo sua luz e proteção. “As pessoas na Europa são boas, assim como Jesus”, justifica Miracle, explicando sua ida para o continente em 2012. “Rezo todos os dias para encontrar um jeito de voltar”, ela diz.
Miracle voltou da Itália há dois anos. A história que ela conta aos jornalistas é vaga.
Ela diz que só se prostituiu por algumas semanas, até uma associação se interessar pelo seu caso. Mas a freira, que conhece sua história, é enfática: Miracle se prostituiu por completo.
– Cartéis –
Mulheres de origem pobre e com pouca formação não conseguem chegar à Itália legalmente.
Mas na cidade de Benim, cartéis de tráfico de pessoas são abundantes. Basta encontrar uma “madame” para organizar a viagem, obter documentação falsa e a promessa de um “trabalho”.
Algumas acreditam que se tornarão cabeleireiras, enquanto outras esperam se prostituir em grandes hotéis. Muitas sequer fazem perguntas.
Quando chegam à Europa, essas mulheres trabalham vários anos nas ruas de Palermo ou de Paris, ganhando entre 5 e 15 euros por programa, para pagar uma dívida que varia entre 20 e 50 mil euros.
Divinity, por outro lado, acabou em Dubai. A dívida que ela assumiu foi de “apenas” 15 mil euros. Quando saiu de casa, queria realizar o sonho de sua vida, que era “viajar para o exterior”. Na época, ela tinha 18 anos.
“Eu vivia em casas noturnas. Estava cansada. Um dia, peguei minha “madame” falando no telefone com o pai de uma das meninas”, disse a jovem.
“Ela dizia que o “juju” (um ritual de magia negra ao qual os traficantes submetem as pessoas antes de traficá-las) já não estava funcionando e eu precisaria voltar à Nigéria para depois retornar à Dubai. Eu ia precisar começar tudo do zero e pagar uma nova dívida”, ela relembra.
Divinity percebeu que jamais conseguiria escapar de seus traficantes e decidiu denunciá-los à polícia. Ela foi expulsa do país pelas autoridades e voltou à estaca zero.
Nas ruas da cidade, a pobreza se mistura com as inúmeras igrejas e escritórios do Western Union, pelo qual as famílias recebem o dinheiro enviado por suas filhas durante sua “estadia” no exterior”.
-“Chegando ao topo”-
As mulheres que “fracassam” em sua jornada acabam nas calçadas da cidade, vivendo um inferno pessoal na Europa. Elas recebem dezenas de clientes todas as noites, seja nas zonas rurais ou nas estações, engajadas em “práticas sexuais de brancos”. A pior parte é quando elas acabam indo para a Líbia.
Cada vez mais mulheres em Benim estão descobrindo o outro lado da história. Hoje, os traficantes optam por prometer o sonho europeu para as meninas das aldeias.
Essas meninas têm apenas uma pequena noção do que é o mundo, mas acreditam que a vida pode ser melhor em outro lugar.
“Todo mundo quer viajar, ser importante, chegar ao topo”, justifica a jovem Patience.
“O dinheiro vale mais lá. Por causa da taxa de câmbio, nossa moeda não vale tanto”, lamenta a jovem.
Com a recessão que assola a Nigéria há mais de um ano, causando o colapso da moeda nacional (naira), 30 euros representam uma grande soma atualmente. Basta que uma mulher envie esse valor para sua família (o equivalente a um salário mínimo), para que ela se torne uma pessoa “respeitada, que venceu na vida”.
“Elas querem ir a qualquer custo e não gostam das ONGs que tentam lutar contra o tráfico”, diz a professora Edoja Okyokunu, socióloga da Universidade de Benim.
“Em geral, ninguém enxerga o problema. As mulheres daqui não são vítimas do tráfico de pessoas. Elas se oferecem a ele. Essas mulheres são vítimas da pobreza”, ela afirma.
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